quarta-feira, 29 de abril de 2009

Olhai os Litros no Canto - Poema de Silas Correa Leite













Olhai os Litros no Canto


Olhai os litros no canto
Conhaque, pinga, Martini, Cynar
E ainda o boêmio a procurar
Um aperitivo de anis para o quebranto

Olhai os litros em demasia
Destilados de incontáveis sabores
O boêmio em serpentina e poesia
Indisposição fisiologia e desamores

Olhai cada litro de bebida
Até amargas, como a vida o é
O noiteadeiro de Itararé
Aceitando desgraçar a própria vida

Olhai os semblantes perdidos
Dos viciados em aperitivos
São as paixões de seres vivos
Já pela cirrose combalidos

.............................................

Olhai os litros no canto
Se a um barista isso aprouver
Deve haver uma ingrata mulher
Fazendo o pinguço beber tanto!

-0-

Silas Correa Leite, Itararé-SP
E-mail:
poesilas@terra.com.br

terça-feira, 28 de abril de 2009

Rir é o Melhor Remédio do Notívago Cervejeiro


Boêmios de Itararé, Estância Boêmia, Santa Itararé das Artes


Declaração Universal dos Direitos dos Boêmios





Declaração Universal dos Direitos dos Boêmios


01)-Todos os Boêmios Cósmicos até de além da Via Láctea, têm o mesmo direito à vida noturna, notívaga, da fauna seresteira, sem tirar nem pôr. E todo Boêmio é um filósofo para muito bem discutir futebol, mulher, política, religião e objetos não identificados, principalmente depois da saideira que nunca termina de ser a antepenúltima...
02)-Todos os Boêmios têm direito ao respeito e a proteção dos abstêmios e mesmo à proteção da lei da vida urbana e das autoridades constituídas, até porque, as grandes revoluções e guerras podem começar ou terminar nos bares e é melhor prevenir do que remediar
03)-Nenhum Boêmio deve ser maltratado, tendo sempre direito a pinduras, fiados, cheques borrachudos ou mesmo até algumas biritas e saideiras por conta de amigos do chamado “Lar Doce Bar” ou mesmo por conta da casa, porque Boêmio que presta é Boêmio que não troca o destilado pelo duvidoso. Edepois, falando sério, pode ser melhor deste lado do que do lado de lá... Deus abençoe o limão e o açúcar. Meu reino por uma garrafa de cachaça.
04)-Todos os Boêmios inveterados e incorrigíveis, têm o direito de viver para sempre no seu habitat rueiro de gracioso natureba-etílico em peregrinação, entre as musas, amantes e amigas do alheio, longe dos que têm cérebro de minhoca, os subcretinos e os alcoólatras anônimos
05)-A esposa-vitima que o Boêmio escolher para ser sua eternal companheira na alegria e na falta de cerveja, no álcool nosso de cada dia ou na ressaca, não deve nunca abandoná-lo como a um Engov ou Sonrisal usado. Abandonar um boêmio é condená-lo ao dezelo íntimo que resultará numa cirrose como seqüela de seu desmanche como ser e como humano. E depois, beber é divino.
06)-A nenhum Boêmio deverá ser causado qualquer dor de qualquer natureza, e a mulher que o deixar e o trair por ser biscate, será para sempre renegada por todos os viventes com consciências arejadas, cairá na vida e será uma qualquer na vida difícil sem ele, um incompreendido pelas pedaçudas de miolo mole e certos interesses escusos de percurso. Para compreender um Boêmio tem que ter olhos de santa, abraços de estrelas e alma avelã.
07)-Todo ato que põe em risco a vida ou o fígado do Boêmio, é um crime contra a natureza e a sua orquestra cósmica de preservação dos seresteiros, cantadores, trovadores, louvadores da vida e da beleza da vida por atacado. O Bar é nosso e ninguém tasca. E artistas bebem para suportarem a insanidade e o cinismo de parte da sociedade de lucros impunes, riquezas injustas, propriedades-roubos e falsidades cênicas
08)-A poluição da vida (becos e guetos), do bar (estranhos e pára-quedistas), de praias e montanhas, de terras lindas como Itararé, Cidade Poema, Shangri-lá, Pasárgada, Terra do Nunca, Paris, Rio de Janeiro, será considerada um crime contra a existência dos boêmios que são livres pela própria natureza, cantadores por ócios do oficio, com suas contentezas e prazeiranças de alegrar mundos e fungos, ícaros e almas naus, periferias cor-de-rosa e bares risca-facas. Saravá, Pixinguinha e Maestro Gaya. Os que não sabem beber são saúvas. E as saúvas ainda vão acabar com o Brasil. Camarada, que bom que você veio.
09)-Os direitos dos Boêmios serão defendidos por lei e valias desde logo em todos os foros de respeito à vida, à lua crescente ou cheia, à imaginação fértil e às barulhanças do bem viver em paz e com a alma aberta, até porque, ninguém é de ferro e, como disse o Chico Buarque do Brasil - o maior porrista de todos - a seco ninguém segura esse rojão
10)-O ser humano deve ser educado desde a tenra infância ainda no materno seio doce ou na mamadeira-chuqinha com suco de uva pra preparar o desfrute no devir – e deve saber que da água viemos e à cerveja voltaremos, e deve com sensibilidade temporã observar, respeitar e compreender o seu próprio despertar de uma paisana consciência cívica e ético-plural-comunitária (humanismo de resultados), pois, os animais que são puristas amam os bêbados e seus correligionários, mas, principalmente, se não tiver competência etílica ou asa luz para ser um verdadeiro Boêmio de fé e estirpe – e pescador, mentiroso, poeta e contador de causos do álcool da velha - que pelo menos respeite os Baristas e suas vidas ilustres nas constelações noturnas como pirilâmpadas do viver cada dia como se o mundo fosse acabar. E depois, Boêmio não tem terceira idade, tem terceira infância, e é melhor morrer de porre do que de tédio. Ai que preguiça! O mundo não vai acabar em fogo em enxofre com choro e ranger de dentes, mas acabar em cerveja transgênica com gargalo de espuma radioativa, chorinho e ranger de petiscos nos dentes. E nunca bebam ao dirigir, que a latinha pode cair...
E fica o dito pelo não dito. Quem quiser que conte outra, e vamos pedir mais uma rodada que o fígado faz mal à cerveja e depois, malte, levedo, lúpulo, e cevada, é muito melhor do que água, pois os peixes fazem sexo na água. Aleluia Biriteiros. O céu pode esperar. Ave Itararé! Mãos ao Álcool!
-0-
Poeta Silas Corrêa Leite – Boêmio Pela Própria Natureza
Poema da Série “Há Bares Que Vêm Pra Bem - Confesso que Bebi”
Estância Boêmia de Itararé, Chão de Estrelas – “A história do Brasil passa por aqui” - Capital Artístico-Cultural-Etílica da Região Sul do Estado de São Paulo, em boa safra de uva, milho, feijão, calcário, bares, beiras de rios, cevas, luares e, é claro, muita cana-de-açúcar que o céu pode ser lá
E-mail:
poesilas@terra.comr.br
Site:
www.itarare.com.br/silas.htm
Blogue de Itararé: www.artistasdeitarare.zip.net

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O Autor, Silas Correa Leite, de Itararé-SP


Última Capa do Livro O HOMEM QUE VIROU CERVEJA

Texto da última Capa do Livro
O HOMEM QUE VIROU CERVEJA – Crônicas

Premiado no “Concurso Valdeck Almeida de Jesus, Bahia, 2009”, este livro é um mosaico de crônicas do escritor premiado em verso e prosa, Silas Correa Leite, da Estância Boêmia de Itararé-SP, que colabora com quase 500 sites brasileiros e do exterior, veiculando seus diferenciados textos críticos, de humor, ensaios, crônicas e mesmo contos, poemas e artigos humanistas, além de um e-book de sucesso (O Rinoceronte de Clarice) que foi destaque na mídia, inclusive televisiva, e tese de doutorado na Universidade Federal de Alagoas. Aqui, vinte e cinco crônicas especialmente escolhidas pelo autor, entre elas a que nomina a obra, O Homem Que Virou Cerveja, uma das mais veiculadas na web. Sendo de uma cidade histórica de famosa fauna notívaga fala de um Itarareense que adora umas e outras, seresteiro pela própria natureza, quase que acabando uma espécie de herói popular, o Beer-Man. Como a loura gelada é a preferência nacional, o autor aqui arrola, para ser deleitado em prosa de alto astral, seus outros trabalhos com acontecências de quilate. E quem quiser que conte outras. -Garçom, solta outra estupidamente gelada.

Valdeck Almeida de Jesus – Autor do Romance de sucesso “Memorial do Inferno, A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, Giz Editorial, São Paulo-SP

Crônica O HOMEM QUE VIROU CERVEJA





O Homem Que Virou Cerveja


Bebo porque é líquido.
Se fosse sólido comê-lo-ia


Jânio Quadros


Emanuel Calixtrato Piazotti Assad era o maior bebedor de cervejas da região de Itararé. Dizia que bebia para ser feliz, para aceitar as coisas ruins da vidinha merreca que levava, e assim poder conviver em paz com as pessoinhas como elas eram. Bebia muito pra tornar a vida mais interessante. E, citando Jânio Quadros, brincava dizendo que bebia porque era líquido, se fosse sólido “comê-lo-ia”...
Com ele beber cervejas era sagrado, e uma condição psicossomática naturalmente assumida, que invocava um ritual todo próprio que montara de porre direto, seguido, de domingo a domingo. E o fazia no lugar do café-com-leite com broa de milho de cada manhã, no lugar da água potável pra sapecar a sede corpórea, em vez do suco de framboesa ou limonada com limão-rosa da tarde, antes da marmitona do almoço frugal, antes da janta com creme de espargos e pedaços de frango atropelado, antes de dormir enormemente entupido, e, pior, quando o médico já descorçoado, receitava tufos de remédios pra rinite ou mordidas de abelhas (pois que ele era pegajoso de açúcares esplendentes), ele os tomava sempre com cerveja light ou sem álcool. Era impossível.
Encostava o umbigo peleguento no Bar do Tepa, ali na Rua 24 de Outubro, centro velho de Itararé com seus paralelepípedos feito cacau quebrado, e tomava todas e mais algumas, antes de subir trombudo o sentido da casa de meia-água de tabuinhas de pinho no alto da Vila Osório, bem pertico do popularesco e concorrido siriri das putas da cidade, nos idos de antigamente, em que se escrevia farmácia ainda com peagá.
Sua lenda pessoal, todo mundo sabia. Era simplesmente cair peladão como adão bêbado numa piscina de cerveja, de canudinho e tudo, e só acabasse o forfé inteiro quando se entupisse dela toda. Seu sonho impossível era ser um provador de cerveja numa tal República Rural-Etílica da Bavária. Sabia piadas sobre cervejas, adorava a loira gelada e, falando sério, para ele tudo era cerveja, até os preços nas biscates que fazia de eletricista, encanador, pedreiro, azulejista, trocador de parafusos ou mesmo em temporadas de zeladoria de clubes em forfés de momo, quando era, claro, tudo uma bolsa de valores na base de cotação-cerveja.
Prum batente passageiro de final de semana, trocar rosca numa torneira, puxar fiação de 220 wolts, consertar pneu de bicicleta rueira, trocar pneu de jipe chique de perua com mini-saia curtinha que dava pra ver as amídalas por baixo, era baratinho: saía pelo preço de duas cervas apenas. Mais umas lambujas.
Não tinha lá muito fanatismo por uma ou outra marca, de Brahma a Antarctica, mas gostava muito da Skol, e sempre desconfiava das marcas novas, até que, por ocasião de algum forfé maleixo, se empanturrava de uma dessas marcas nascentes e passava a constar no seu rol de apreciador por atacado a noviça e deliciosa cervejinha da hora, até porque, falando sério, a bem da verdade, a primeira fazia tchum, a segunda dúzia mais ou menos essa onomatopéia no gargalo, depois, tudo era a mesma coisa, amarga ou espumosa, quente ou gélida. Diziam, os fofoqueiros oficiais da central de boatos de Itararé, que se ele já tivesse se empanturrado como uma paca obesa, podiam pedir pruma grávida mijar num litro, gelar direitinho, que ele todo trancham tomava babando e ainda arrotava espuma no beiço curtido. Já pensou?
Emanuel era um boêmio famoso da fauna notívaga da Estância Boêmia de Itararé, Santa Itararé das Artes, que via a vida de dentro de uma garrafa de cerveja, sob a ótica escapista desse enfoque. Tudo no exterior do ser de si, era uma baita cervejaria cósmica, os seres tanto podiam ser apanhadores dos campos de centeios, quando não fermentos saradinhos, topetudas saúvas bípedes, tonéis de carvalhos com torneirinhas e tudo, polacos barris de chope, curtidouros ambulantes, alambiques com alpargatas, um bucho de maltes, lúpulos e levedos, serpentinas com orelhas e ia por aí a prosopopéia.
Para uns ele era um tremendo pudim de cachaça, para outros era um cidadão-contribuinte bonachão mas viciado nas biritas e nos percursos habituais de trecheiros etílicos que faziam a via sacra e notória da pinguçaiada da cidade.
Alguns piás de rua, fuzarqueiros, berebentos e com amarelão, procuradores de sarnas públicas pra atiçarem pedras de dezelos íntimos e banzés vernaculares, assopravam que, se riscassem um palito de fósforo no Emanuel ele virava tocha humana em segundos, tal o teor de combustão nas tripas e que davam explicitamente na epiderme.
Churrasco era com cerveja espumosa, claro. Sem tirar nem pôr. Ia levar a mulher crente no culto da Assembléia de Deus ali na rua Prudente de Morais, e ficava no barzinho da esquina do Carlinhos Pingüim sapecando algumas, filando petiscos, contando palha, azarando camaradas de vício. Se o filho carecia cuidar de uma cárie no dente de leite, deixava o piá no dr. Alfredinho Dentista e lá ia ao Biribas Blues Bar tomar a saideira que era, a bem da verdade, sempre a penúltima, nunca a derradeira.
Morria algum parente? Ché. Corria dar uma olhada no cadáver pardo, fazia aprumo de dezelo íntimo, depois se pinchava todo de tromba pro Bar do Tunico Bittencourt na esquina do morgue e lá chorava suas pitangas, regado, claro, a uma espumosa preta de colarinho curto para assim até dar sentido simbólico e de metáfora à sofrência.
Bebeu tanto, e todos os dias, que até teve crises de delírios. Saquem essa. Quando, mal serviam a cervejinha da hora, e encostava a orelha de dumbo perto do copo, logo, bem entojado, variando purgações, dizia ouvir aplausos de dentro do copo recém servido para a sua sabedoria de bebemorar muito bem e ser fanático por esse néctar dos anjos. Vejam só. O céu por testemunha.
Fazia apostas. Quem bebia mais. O Fernando Milcores desacorçoou. O Jorge Chueri não foi na lábia doce dele. O Tanaka Bailarino, o Badu Contieri tipógrafo, o Bastião Querosene boêmio, o Pedro Ganxuma bóia-fria, o Tilico Boaventura cafetão e nem mesmo o Barão do Caiçara todos juntos, não eram páreos pra ele. Dava gosto vê-lo entornar uma garrafa de casco escuro num golpe só. Ganhava todas. Vinha gente de fora da Estância Boêmia de Itararé tentar levar vantagem com ele, mas ele, tinha feita que, numa empreita etílica dessas, enquanto bebia as três dúzias de uma vez só sem pestanejar, batendo seu próprio recorde já folclórico, ia mijando-se todo, bebendo e vazando, entrada e saída no mesmo duto corpóreo, feito uma esponja etílica.
Até papeava que, se a cerveja fosse paga com o desconto dos mijos, seria muito mais barato o preço. Pensava em reclamar com o Procon a respeito essa questão de direito de beberrão, boêmio sarado que era, se imaginando herói de uma ONG nesse propósito de defender o líquido inexato. Pensava até em escrever pro Presidente Lula esse reclamo gaiato.
Os médicos diziam que ele tinha bucho de três pessoas para tanto receptáculo no seu pote de vísceras, mais que o corpo era um só, a cabeça uma só, o pulmão um só, o coração idem, a biles uma só. Onde já se viu? Mas ele era assim, fazer o quê?. Com isso, com o envelope redondo do tempo indo e vindo nas circulares das bebemorações por atacado, o estrupício ganhou íngua em tudo quando era lugar, até nas idéias, diziam alguns sarristas. Tinha caroços em tudo quanto era parte do corpo. Endócrinos avaliavam, e davam com um ou outro nódulo benigno qualquer, encerotada de levedo velho, lúpulo antigo, malte sarado no nodal cíclico.
Diziam que tinha a língua dourado de tanto malte, levedo e lúpulo passando por ali. Tinha calos até nas unhas amarelas parecendo chifres amelados do dianho. Os cabelos, acredite se quiser, amarelaram com o tempo. O céu por testemunha. Diziam, os mentirosos e gozadores, inventores do inexistente, que ele urinava rótulos amarelos das cervejas apreciadas. Mas aí já é invencionice de gente fofoqueira da central de boatos da cidade. Mentira tem limite, né?
Mistura de italiano com árabe, pai oriundo da Sicília e mãe da roça de tâmaras e hortelanzeiras do Líbano, ele tinha pique, saúde, jeito e, bem forte, começou ainda mais a encorpar nova estética quando deu-se por beberrão, viciado, com o seu fígado inchado reclamando, pois que começara a fazer mal pras bebidas. Mas nem cirrose tinha, o lazarento e caipora. Mal-e-mal, vez em quando, uma ressaca de vomitar serenatas inteiras em jatos dourados. Mas depois do desperdício, dizia ele, era só engatar numa outra bebedeira e o corpão todo se aprumava num eixo movido a álcool. Era um alambique ambulante.
Empresas de cervejas da região sulista toda, quando iam lançar novas marcas caseiras com buquês novos, chamavam o Emanuel pra dar seu gosto de referencial, avaliar o paladar do deguste, no desfrute que filmavam alvissareiros como propaganda de que ele sabia mesmo escolher e era mesmo entendedor da marca e do consumo salutar dela.
Até que começou a ficar gordão e amarelo. Enorme como uma anta obesa, até o beiço mole (conservado em cervas) da mandíbula superior vindo pra fora, feito bico somatizado pra captar melhor a espumosa geladinha. Pior foi a cor. Era primeiro de um pardo-biscate, depois um verde maleixo, em seguida marrom-estrume e finalmente a tez amarelou. Quarentão e dourado. De noite, aos tropeções, ganhando a periferia de sua casa, parecia um filhote de cruz-credo, até na estética disforme espelhando a luz da lua mas em cor amelada brilhante.
Teve um filho só, pois se casou com a Mariquinha Lemos, e, quando cobravam porque só tinha um piá de nome Porter (marca de cerveja sulina), ele dizia que era para não gastar zona de fricção a toa, pois que o enorme bucho era o seu laboratório de enzimas componentes das cervas queridas, sua razão de ser e de viver. A cerveja era o néctar dos deuses, dizia. Dizia-se, todo pimpão, ser uma cerveja ambulante, bípede, comedora de carniça, fornicadora e sedentária.
Sonhava ser, numa outra vida, se houvesse outro boteco no céu, uma cervejona e tanto. Encorpada e de marca. Cara e famosa. Alemã, de preferência. Quando morresse, depois das cinzas etílicas, claro, queria ser enterrado numa garrafa de cerveja de marca maior, casco escuro, claro. Por ora ia levando a vidinha, mais rolando do que andando, tanto que estava encervejado em tudo, inclusive no psicossomático. Virou assim uma espécie refratária mal ajambrada de uma garrafa de cerveja ambulante, e até usava de tampinha um boné bem parecido.
Eram 90 quilos-litros de cerveja embalados no seu corpo-casco pra itinerante percurso orbital, todo santo dia, entre a casa e os bares, entre os afazeres e os bares.
O pior de tudo, no entanto, reclama ele, arrotando fermentação numa hérnia epigástrica já esticando o bucho, é quando, saindo de sua humilde casa ali Vila Osório, garrando os afazeres de biscateiro no centro da cidade, os piás, jaguaras de gozadores, logo botam a boca pra fora, feito estrupícios, entre as encardidas cortininhas de florezinhas variadas das janelas das casinhas humildes e periféricas, e gritam, aloprados gritam em alto e bom tom:
-Dééééésce REDONDO!


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Silas Correa Leite –
www.portas-lapsos.zip.net