quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Jediel Gonçalves - Resenha Crítica de Flavio Viegas Amoreira





Decifrações na Mesa de um Bar


Um lugar chamado “percepção”. Além de responder a uma pressão psíquica, esta percepção está justamente articulada ao impulso na direção da escritura, ao desejo (sob forma de espera) de escrever. O enredo não pode começar simplesmente de “atrás dos montes”, de uma mesmice poética, sem novidade alguma, de um romantismo pastoral, mas deve prover uma solução particular para a divisão subjetiva do narrador. Para isso, a literatura é chamada a reconciliar o corpo de gozo (“suporte literário”, scriptor, inscrito no prazer e escrevente), torturado pelo motivo da espera, e o sujeito que está exilado em si mesmo na mesa de um bar.

Corpo e pulsão. O desejo de escrever, ou gozo da escrita, é recuperado pela via pulsional. A “literatura” aparece no conto de Flávio Viegas Amoreira não somente como um meio de viver, mas como parte complexa da vida: a espera (espera-se o quê?).

Literatura, ou poder criativo, como espera. Para que no narrador consiga satisfazer o gozo da escrita, é preciso continuar a escrever diariamente.

A prática dessa escritura mitiga a violência de tensões internas do narrador. De qualquer forma, a escrita guarda em si o movimento latente do sujeito: existe um impulso para a escrita que reconcilia o sujeito com ele mesmo, no sentido de que ela provê, sob forma de expressão, uma solução particular para sua divisão. E por isso esse sujeito pede por âncoras. Não é um desejo sublimado que o sujeito aqui tenta procurar, mas um desejo de escrever alguma coisa, de substituir a parte insignificante do episódio amoroso para abraçar os cadernos de rascunhos. Sem querer, o narrador substitui a complexidade da vida pela precipitação do desejo literário. Esforça-se em direção à escritura pelas representações (pulsionais) sensoriais. A megalópole, mega imagem sensorial, entra no fazer poético como material coletado, e iconiza-se como tal. Os movimentos da cidade se sobrepõem uns aos outros, até atingir uma forma mais ou menos hieroglífica. Imagem mental se transforma em imagem escrita; matéria precipitada pela pulsão se converte em scripture. O narrador adentra o universo da criação artística, libera, ex-ternaliza todo o traumatismo, passando de uma posição passiva (pois transcreve o enigma das imagens da cidade em produto da criação) a uma posição ativa, a do sonhador que “alucina”, escrevendo, fora daquilo de que ele quase foi o objeto alucinado. Uma vez traçados no papel, esses sonhos, essas “alucinações”, não são estáticos, ganham vida. O narrador se põe a escrever uma história que não se reproduz no conto que o leitor de Amoreira está lendo. Mas o mais importante no conto não é nos dar esse acesso à estória escrita pelo narrador, mas buscar restaurar as faltas de sua própria vida com a literatura. Na verdade, aqui, se coloca uma história que repete algo da pulsão de escrever, que – buscando reconciliar o sujeito com as privações de sua existência amorosa (eró-tica, no sentido menos sexual da palavra, de alguém que goza de experiência amorosa) – coloca o sujeito antes do objeto. Ou seja, muito antes de escrever, o sujeito deseja saber porque espera. A espera é uma forma preparativa para algo que será escrito a partir desse desejo. E isto vale para os mitos, as ficções, as teorias, a poesia. De qualquer forma, o narrador goza dessa espera. A espera deixa de ser elemento problemático para tornar-se elemento de eficácia e efeitos. Quando o narrador se concentra no fato de esperar, todos os motivos vêm desencadeados nos mesmos planos. Há um “enchimento” na espera, e um esvaziamento na literatura. E é esse esvaziamento, “néantissement”, segundo Sartre, que nos interessa. O néant criador. E essa literatura não tem por fim achar, mas testemunhar que insatisfeitamente ela é buscada. A escrita parece caminhar pelo labirinto das suas próprias galerias: um pouco trechos de textos que geram ainda mais textos. A literatura constitui o ponto de partida para uma reflexão. Quem esperava não chegou, quem chegou, mesmo, foi a literatura, a criação poética, criando uma arte de ser dentro de uma arte de parecer. Não são ilusionismos, mas sim, fascinação pela palavra, pela escrita. Uma passagem da espera virtual para um apego à palavra. No conto há também um encontro desse narrador com o Tempo. Que Tempo é esse? Não é o tempo perdido que passou a esperar pelo amante; é o tempo ganho que faz multiplicar o sinal de dois pontos (:) no texto. Escreve. É o tempo entre a escuta do mundo e a transferência para a escrita. Tempo de escuta-escrita. O tempo que vai ajudar o narrador a terminar sua frase. Uma frase-viagem. Tão longa na decifração! É o tempo para compreender. Tempo da coisa e do vestígio. O narrador não perde somente a pessoa que não veio ao encontro. Ele perde o real. No conto, notamos que o real é visto como o impossível, aquilo que é radicalmente perdido, excluído do simbólico. A literatura exige deste narrador uma simbolização para tornar-se categoria do possível. Escrevendo, esse narrador maneja o real como “o expulso do sentido, o impossível como tal” (1), segundo Jacques Lacan. O narrador mergulha no real da literatura, no real que não é o mundo e não há a menor esperança de alcançá-lo. Real que escreve o que é estritamente impensável. Um real onde tudo resta findo. Um real, oco, de poesia, talvez. Há um recolhimento do sujeito, uma rejeição do mundo externo. Espécie de entrega a um mar silencioso que pode, em muitos casos, ser um requisito do pensamento e da imaginação scriptural. Tomar a criação poética, à pílulas, durante o momento de espera. A “espera” seria assim um símile para provocar a arte literária. Ela assinala um procedimento interessante: ela evoca um ato de se voltar para si mesma (espera-se um, mas chega o outro), e serve-se de uma expressão que a imagem de “literatura” autoriza para fortalecer a própria engrenagem poética. Medita-se, inquire-se, sonda-se, envolvendo o leitor num exercício de lúcida reflexão que revela uma forte consciência dos mecanismos implicados nos processos de significação. A espera é uma vigília. Há um magma em expansão que é sustentado na dupla “literatura e espera”. Parece haver um móbil a arrancar do corpo a fala, um estado de inércia em busca do inalcançável. Os impulsos são ascendentes, mas não são impulsos para um absoluto, é um impulso para a multiplicidade de vozes, para uma extensão reflexa para o olhar daquele que espera interroga (por que ele não vem?). Há um horizonte insatisfeito. Escreve-se para esquecer que escreve num exercício circular?
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(1) LACAN, Jacques. Seminário R.S.I (inédito). Lição de 11 de março de 1975.p.32.
BIBLIOGRAFIA:
Céline MASSON, L’Angoisse et la matière, Paris, L’Harmattan, 2001.
Éric BENOIT. Néant Sonore, Mallarmé ou la traversée des paradoxes, Bordeaux, Droz, 2007.
Hanna ARENDT ; Hermman Broch, Création Littéraire et Connaissance, Paris, Gallimard, 1985.
Jacques LACAN. Seminário R.S.I (inédito). Lição de 11 de março de 1975.
Joël CLERGET, La pulsion et ses tours, la voix, le sein, les fèces, le regard, Lyon, PUL, 2000
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Jediel Gonçalves é formado em Letras Modernas pela Universidade de São Paulo; mestre em Literatura Francesa pela Université de Provence Aix-Marseille I, é membro do Laboratório de Estudos Intersemióticos; Pesquisador em literatura francesa dos séculos XIX e XX; crítico literário; pesquisador das relações e implicações/traduções das artes plásticas no universo da criação literária. Atualmente realiza um estudo intersemiótico sobre a recepção de obras plásticas na obra literária do escritor francês Marcel Proust.
Blog: http://litterartmobilis.blogspot.com E-mail: prof_jediel@yahoo.fr

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

BELADONA E SEUS VÁRIOS MARIDOS, Conto Premiado de Silas Correa Leite




Exercícios Urbanos
Portal Literal 1.0, Rio de Janeiro (RJ) • Fundação Petrobrás

O vencedor do concurso Exercícios Urbanos do mês foi Silas Correa Leite, com "Beladona e seus vários maridos". Ele ganhará um vale-livros de R$ 300 da Livraria Cultura. Veja também os outros classificados. Curadora: Heloisa Buarque de Hollanda
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Beladona e seus vários maridos
Silas Correa Leite


Beladona, ou melhor, a Professora de Ciência, Biologia e Matemática, Benedita Izidrom Castaquali, vulgo Beladona, tinha certamente a fórmula perfeita e muito bem acabada do Verbo AMAR em todos os seus sentidos, até explícitos. Inicialmente cinco era a quantidade exata de sua felicidade plena. A ciência da multiplicação de desejos. A matemática da soma de tanta libido. A biologia da zona de fricção. Casou cedo com um tipinho, por paixão louca, amor a primeira vista e o pai portuga cobrando em cima da barriga de quatro meses, depois amor à prestação, depois tédio conjugal, duplicata vencida do desejo, não satisfeita, claro, deu um pé no traseiro do sujeitinho mais folgado do que a Ângela Ro Ro de cueca, e partiu pro trabalho constante e para o estudo direto e multiplicador de posses e afins. Era mulher de verdade mas não era Amélia, claro.

Anos depois, apagado o pito, sossegado o facho, o segundo marido-homem que lhe deu então, três filhas, Judite Flor, Esther Leão e Nara Estrela. Malemal as meninas fizeram o primário, ela largou o fofo que tinha alguma bufunfa (e valera-se disso) e viveu-se livre, leve e solta. Free Again, dizia. Numa vigem de férias para o litoral norte de São Paulo, festeira que era, toda trancham decolou o terceiro marido vítima. Lá foi morar junto, tentar ser feliz, custasse o que custasse, doesse o que doesse. E pra ela ser feliz era a paixão aloucada, que, por algum motivo, desgaste ou enjôo, não durava muitas luas. Imagine só.

As filhas moças, e a Beladona resolveu comer marmita fora. Terceirizar, por assim dizer. Partiu literalmente para o quarto concubinato-entrave. Traía-se consigo mesma às vezes. Era do feitio amoroso dela. E ali se apoquentou um pouco, achando que, quem comia o filé, haveria de querer comer também o osso. Já pensou, num país latino de histórica machice adquirida? Mas, claro, poderosa, liberal, signo de escorpião em tudo, a Beladona não quis alguém pra envelhecer ao seu lado. Queria jovens na muda. Literalmente deu com os burros nágua. Onde já se viu isso?

O maridinho janota e boçal, gaúcho saradinho da silva, tava com olho torto pro lado de uma outra, dando em cima e embaixo de uma ruiva vizinha pedaçuda, que se aproveitou em desfrute no côncavo e convexo da íntima zona de fricção. E pôs-se chapéu de vaca, com a Beladona ardente ficando fula da vida ao saber do porqueira em tapeação. Benza-Deus. Então a Beladona se aborreceu, correu fazer curso de esoterismo, leu Neruda, ouviu Cauby Peixoto, Pixinguinha, deu-se um tempo que tinha que aprender alguma lição com as cacetadas do verbo existir também. Beladona deu-se um desencargo de consciência, segurou muito bem o tchan, por assim dizer. Mas a vida é madrasta e Deus é pai. E a Beladona na vacância de uma paquera e algumas ficanças...se encafifou, onde já se viu, com um colega de trabalho na escola, professor de sua área. Só por Deus.

Quando se viu, estava multiplicando sonhos e explicitudes gozosas de prazeres e felicidade por atacado. Era o outro marido-vítima da Beladona. Como tudo, em tese, tem começo, meio e fim, a dádiva paixão também por mais pegajenta ou viajosa que seja, o professor foi para outra escola e, tiau. A Beladona azedou a polenta da vida, e, um dia, fui, deu um chega pra lá no frouxo do maridinho-mané, e, novamente, claro, deu Beladona nas pensões alimentícias – ganhava mais do que os machões varões - uma delas para o pai das herdeiras chiques e embonitadas.

Conversa vai, conversa vem, um dia a bendita Beladona estava com olhares maviosos e surgiu com cantada doce de aprendências em labutas. Beladona começou a sondar calendários, renúncias e pertencimentos. Foi nessa. Isso na segunda-feira. Depois, na terça-feira da semana, estranha coincidência, a Beladona com sininhos no coração. Pior foi na quarta-feira, dia de batente, e lá surgiu a Beladona parecendo uma penteadeira sonora de cigana. Ali teria os ex-patos-vítimas? Que nada. Na quinta-feira a Beladona lá estava pendurada em lustre, sem ter lustre. Será o impossível? Desconfiei, encafifado.

Pois não é que, na sexta-feira boêmia depois do dia de gandaia, a Beladona tava, de namorico, assanhada pro forfé? Onde há balaio há tampa, diz o ditado arigó. A Beladona tava jogando em todas as posições de ataque no time do amor? Mala e cuia. Estava saindo com os seis ex e alguns possíveis retornos de quase futuros. Cruzava, cabeceava pro gol e ainda defendia. Já pensou? Ai do amor! Pior: se descansava um sábado, falhava a encomenda de um contato, o ex era convertido crente sabatista de ocasião ou tava de pilequinho-ressaca brava, ela ainda dava uma paquerada por atacado, fogo na canjica das emoções atiçadas. Hormônio? Antes fosse. Antes fosse. Ninguém merece. Domingo ainda ia à feira do bairro sondar um português cheio de gíria, sotaque graúdo e sortido, e com um sapato 48 de tamanho maroto. Não estava encalhada e nem carecida mas, ia com a corda toda, em franca atitude de seduzir e de, nos seixos íntimos dar uma calibrada e pra isso tentando um novo serviço corpóreo de lubrificação corpo a corpo.

Depois, saquei o jogo dela: ela abria-se em leque do maquiavelismo interior, gostava do ex, da segunda-feira, seu primeiro amante, que a tinha inaugurado por dizer assim, um homem que a marcara bem, um cearense de olho azul meio brucutu, espingarda de grosso calibre, ainda que algo zarolho e desengonçado, para explicitar o mimo do vareio de amor. Era o número um na sua cotação marital. Mas fora isso o tipo musculoso era lerdo de raciocínio, néscio por demais, porqueira mesmo. Amontoado em casa, sem cair no batente, dar no couro financeiramente, prover o entojo do lar. Era só primeiro e referencial e pronto. Vá nessa.

O da terça-feira, dizia, era um japonês babaquara mas cheio da grana, o lazarento, filhinho de papai, olho de jabuticaba e cheirando a ouro e cocaína. Dose dupla. Era cotação três na sua pirâmide do amor. Tinha lá seu lado doador, sua ternura explícita, sua marca humanista de dar presentes e alegrar ambientes, e lhe dera carinhoso, mimos, balas importadas e muito amor ao estilo bem oriental.

O da quarta-feira era um safado de primeira. Cusarruim do dianho. Tarado, pervertido por assim dizer, e, pior: amante "caliente", babão, de deixar poesia no criado-mudo, fazer serenatas, improvisar guarânia brega no violão encardido. Declamava Vinicius de Moraes que até o poema parecia delezinho mesmo. Cantava Roberto Carlos melhor do que o Roberto Carlos. Tinha mais voz, tinha peito. As quartas eram nobres, portanto.

O da quinta-feira era um caipora de uma figa, um estrupício de marca maior. Bandido, mas ainda assim porqueira carente, ladrão em jogos de baralhos de clandestinos cassinos improvisados onde montava arapucas para pegar peixe grande. Lidava com traficantes, era amigo de antros de escorpiões de máfias e quadrilhas de contrabandistas informais que posavam de novos ricos neoliberais e traçavam engodos na globalização, até nas privatarias, as tais privatizações-roubos. Levava uma vida peregrina, caçando golpes para se enricar, só faltava mesmo ser das torcidas Mancha Verde ou da Independente Gay, melão em fio de navalha.

Só que o show da vida nas relações amorosas tem que continuar. No sábado de manhã quando algum dos agendados ex falhava, faltava com a palavra ou dava no pira pra uma pescaria ou biscate nova com seio de manga-sapatinho, a Beladona sentia a carruagem de abóbora na alma e pegava desconfio, baixa estima. Mas ainda era o que era, era a Beladona poderosa, o verbo amar era especial pra ela, razão de ser e de viver, não trocava nenhum dos seus tantos por qualquer Brad Pitt da vida ou muito menos Leonardo de Caprio. Onde já se viu?

O da sexta-feira era mais feio do que filhote de cruz-credo atrás de calipial, o último na escala da relação causa e efeito, o que até poderia ser descartável, mas a Beladona o adorava físico e espiritualmente pra custeio e refinamento. Era o seu bibebô sexual, seu inocente, puro e burro, o seu anãozinho de jardim, viçando assim ao seu lado maternal todo freudiano que muito a excitava sexualmente. Vá saber a loucura dos manejos assim.

Repito: no sábado a Beladona punha roupa no varal, a perereca na janela (lavou tá novo), e os abusados, claro, punham, depois dos usufrutos dos desfrutes a bengala pra descansar. Brinquei com ela, que ela deveria por a verdadeira jóia corpórea numa jaula para respirar ar puro e florais de ventos que solam Bach.

Mas a danada confirmou:

– No domingo ainda saio com o Joaquim Madeira, aquele dono de três barracas de pastel na feira. O homem não é fácil. Gamou e eu estou no desfrute.

O danado vai botar palmito na azeitona dela. Panela acesa é que faz freguesia boa?

-0-

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

PERGUNTAMENTOS - Poemas de Silas Correa Leite




Poemas de Silas Correa Leite


Poemas de Outono

P E R G U N T A M E N T O S

“Tenho de dar de comer ao Poema – Murilo Mendes

01)-Miseris Nobilis

volta e meia paira sobre mim
o medo da miséria e da fome
da minha infância humilde

então trabalho e estudo e escrevo
feito um condenado à vida
que só na loucura santa de sobreviver criando
encontra a sua espécie de cura

meus versos são pães dormindo
uma realidade substituta




02)-Teatro de Ocupação

Cansei de existir
Mas estudo, trabalho, luto para não
Repetir
A dose.
Morrer é passar de ano?

Luto para não me ferir
Mais do que me fere a existência
De ser
Um homem.
Viver é reparar dano?

Existo para inquirir
O nojo, o horror da vida, a cruz
Do medo
Da fome.
Escrever é baixar o pano?





03)-Violões

Invejo quem toca violão
Violão é o céu plangente
Na ponta dos dedos, na palma da mão
Como um corpo de mulher estridente
Em que você pratica a levitação
E gera música, harmonia, gente
Orquestrando a alma-nau da afinação.


04)-UTOPIA



detesto silêncio quando estou existindo

quando foi mesmo que existi?

detesto barulho quando estou escrevendo

que lugar me fujo no criar?

detesto existir quando escrevo poemas

que lugar me sou a fazer versos?

sou nada e tudo - qualquer parte

ESCREVENDO PARA FUGIR DE ME SER


















05)-Guerra & Paz




Trabalho numa biblioteca pública
De vez em quando os personagens
Dos clássicos vêm conversar comigo



É nessas horas que me enlivro.








06)-Labore



Tentei esquecer

Tudo o que a vida me fez sofrer

Mas como eu escreveria

Poesia


Sem o laboratório de me ser?














07)-Oito Quedas



hoje eu acordei

meio foz do iguaçu

ouvindo blues

desaguando poemas



O buraco das Sete Quedas é mais embaixo







08)-Laranja




botaram o ceguinho pra vender laranjas

no farol da Paulista com a Consolação



o pobre vendeu todas as frutazinhas

mas não viu nenhum tostão









09)-Furta-Cor



A

Solidão

Me

Protege






10)-Autoridade Civil




E SE A POLICIA TAMBÉM FOSSE PRESA UM DIA


POR DESACATO AO EXERCICIO DE CIDADANIA?




















11)-O Papagaio e a Pia

gota a gota a torneira pinga e chia

na pia da cozinha

o papagaio da casa vizinha

olha escuta aprende e espia


quando finalmente consertaram a pia

o papagaio já decora

e pia como uma pia marmórea

na sua entoação sonora


pior do que uma pia alada

seria uma torneira

pois fica chato na casa fechada

um papagaio imitando

uma gota vazada


12)-NEOLIBERALISMO (Cínico Estado Mínimo)

não há vagas

não há vagas

não há vagas

(Aceitamos Escravos)




13)-Mariposa




a mariposa suicida



na lâmpada apagada



espera amanhecer a noite




14)-Genuflexório






Minha mãe


Tirava lágrimas


Dos joelhos















15)-Xerox Quebrada




tenho tantas histórias pra contar


tenho tantas histórias pra contar


tenho tantas histórias pra contar





16)-IDIOTAS



Precisamos de idiotas

Para arredondar

A idéia da banalidade

Bipolar


E ainda há gente vulgar

Que acredita em genialidade


A morte é o atestado jugular

De nossa finita imbecilidade



Dá pra acreditar?




17)-Poema do Cego Pulando Amarelinha

O cego pulando amarelinha
Toma o anjo pela mão
Você só vê o gesto táctil do cego não
Vê jamais o anjo na sua condução
Em cada estágio de saltar sem pisar na linha.

O cego pulando amarelinha
Parece flutuar num balé
E sonda-o a rua de Itararé inteirinha
Perguntando o que nele enseja tanta fé
Céu e inferno; o cego parece que advinha...

O cego e a sua amarelinha
Parece um milagre até
Toma-o pela mão o anjo; o cego se aninha
E pula e salta e vence e acerta o pé
Talvez porque céu ou inferno só dentro da gente é.





18)-Pirilâmpado

“Ninguém pode pensar, sentir ou agir
Senão a partir da própria alienação...”
R. D. Laing

Se quero sobreviver preciso esquecer que meu corpo é uma carcaça.
Uso as palavras para recompor minha vida exangue.
Tento compreender o absurdo da existencialização.
Prezo a morte e leio escombros na angústia-vívere.
Tenho em mim a decadência-preço de Existir.
Não fui aparelhado espiritualmente para suportar a vida.
Minha infância pobre é o mundo que trago às costas como uma lesma com carcova.
Sou um renunciante à vida que respira a tristeza no caos.
Amo os silêncios porque deles tiro filés de santas palavras.
Caibo em despertencimentos, desabandonos e desespelhos com a consciência saturada.
Minha palavra é a minha voz como o estertor de um vagido.
Existir dói e faço doer os engenhos e açudes das palavras.
Uso as esporas das palavras em verso e prosa para refazer a vida que me deram como uma sentença-castigo.
Se eu escrever ansiedades perdoem o inexato corte de pelica da dor em mim lavrada.
Não tenho fórmulas para escapar ileso e não estou impune.
Sou um bebedor e comedor de verbos feito um Pirilâmpado.
Dou ciência de mim aos efêmeros insensíveis como potes de vísceras.
Não me leiam se não querem se assustar de serem a si mesmos revelados como carcaças em espelhos turvos.
Sou por acaso aqui e ali uma espécie de rebrilux. Os gemidos de noiteadeiro falam por mim, me descrevem.
Palavras me são remédios. Correm no meu sangue. Regurgito.
Como se adubos de palavras em ordinárias bateias de granizo.
Sou inventariante de angústias humanas, escondo-me em bibliotecas
E bebo de lanhos de meu próprio sangue letral
Envenenando-me da dura e triste carcaça Sobrevivencial.












19)-Tintas (Água, Sal e Muro)



Um índio pode deixar suas terras muito além das montanhas e florestas
Passar por divisas, armadilhas - entrar em grandes metrópoles urbanas tristes
Mas, ainda dentro de um shopping, no meio de uma praça pública ou túnel
Um índio será sempre um índio

(Tenho sangue índio, negro e judeu em mim)

Um negro pode ter deixado a sua aldeia numa distante savana da África-Mãe
Passar por moendas, engenhos, bandas de blues ou resistências espirituais
Mas, ainda dentro de uma catedral, no meio de anjonautas ou solitário
Um negro será sempre um negro

(Tenho sangue índio, negro e judeu em mim)

Um judeu pode deixar sua sinagoga, suas tribos, seu cântico do talmude
Passar por diásporas, derramas, cálices, trevas, êxodos ou inquisições
Mas, ainda que esteja cordeiro tosquiado no vale da sombra da morte
Um judeu será sempre um judeu

(Tenho sangue índio, negro e judeu em mim)

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Sou a mistura de horizontes, fermentos; salmos e renascimentos alados
Sou água, sal, muro das lamentações, ancouradouros e flores de jasmim
O que mais sou numa aquarela de mistura quando escrevo todas as tintas de mim?
Sou a dor do índio vitimado
Sou a cor do negro escravizado
Sou o horror do judeu exilado
Sou lágrima, arado, pensagem, querubim
Sou todos os seres humanos numa palheta misturado
Sou a raça humana - a espécie que erra
Sou o bom cabrito que no poetar berra
E sou, ainda, a minha própria terra
Eu mesmo um Brasil indecifrável lá dentro de mim








20-My Way



My Way


Um dia você acorda e olha pra trás
E diz: eu não era nada.
E vê toda vida que fez do seu jeito
E pergunta: terá valido a pena?
Você acha que venceu na vida
Mas sabe: o que restou de você?
Talvez muito pouco ou quase nada
Daquilo: uma criança pura.

Um dia você cai em si e teme
O resultado: o que fizeram de você
A luta a dor, as amarguras e
Seqüelas: terá sido uma vitória?
Dentro do seu coração os sonhos
E as escuridões: são os poemas
Que você escreve porque tem medo
De se matar: morrer depois de tudo?
..............................................................
Um dia você não quer olhar pra trás
E nem pra você: foge para a poesia.

(Na escrita há um tempo irreal
Uma ilhota íntima: você em você!)

-0-

Silas Correa Leite
Santa Itararé das Letras
E-mail: poesilas@terra.com.br
www.portas-lapsos.zip.net

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Dicionário de Itarareense




DICIONARIO ITARAREENSE – De Santa Itararé das Artes Por Atacado


Dicionário do POVO DE iTARARÉ

Deusolivre - Termo utilizado largamente um todo tipo de conversa , expressa afirmação negativa categórica. (Ex.: Deusolivre que eu vou no cemitério a noite !)
Xééé - Nem pensar , de jeito nenhum , de forma alguma . (Ex.: Você vai trabalhar Domingo ?? - Xééé !!!!!)
Óia - Olhar algo , veja , preste atenção. (Ex.: Óia só que coisa !!!)

Úia - Olhar coisa ou pessoa interessante , chamar atenção para algo especial . (Ex.: Úia que belezura !!!!)
Cornetear - Falar alguma coisa de outra pessoa , algo parecido com "fofoca". (Ex.: O Walter estava Corneteando o Primo ontem )
Ataque de bicha - Expressão que representa um momento de nervosismo .. (Ex.: Ele me deixou tão atarantada que me deu um ataque de bicha !!!)
Póde Erguê - Não vou fazer , nem pensar de jeito nenhum. (Ex.: Preciso que você vá à pé até a cidade. - Póde Erguê que eu vô !!!!!)
Gorfá - Vomitar . (Ex.: Acho que bebi demais , vou Gorfá !!!!)
Quaiá o Bico - Dar muita risada . (Ex.: O pião tomou um Capote e eu Quaiei o bico !!!)
Vô chegando - Ao contrario do que parece é utilizado quando você vai embora , esta saindo (Ex.: Bom pessoal a festa tá boa , mas Vô chegando !! )
Reganhera - Estado letárgico que geralmente ocorre logo após o almoço, moleza , soneira.(Ex.: Comi 3 pratos de feijoada e me deu uma Reganhera daquelas)
Furdunço - Confusão , normalmente relacionada a festas (Ex.: Tava lá na festa e de repente começou uma briga...foi o maior Furdunço !)
Isgueio - Palavra utilizada para identificar uma ação que não ficou aprumada em linha reta. (Ex.: Ela foi estacionar o carro e ficou de isgueio .)

Fianco - A mesma coisa que Isgueio .

Farfanho- entrou meio na lateral (Ex. estacionei de farafnho na rua)

Vai rendê - Vai dar certo , algo que vai funcionar. (Ex.: Hoje eu vou no baile , vai rendê !!)
Carçá - Palavra que indica comer alguma coisa para matar a fome. (Ex.: Vô carçá o estomago , antes de sair prá balada !!)

Erguida - Levar uma bronca . (Ex.: Quebrei o prato e tomei a maior erguida da mãe !!!)
Pial - O mesmo que Erguida , uma bronca , chamar a atenção de alguém . (Ex.: O Zé chegou as 3:00 hs de pé melado e tomou o maior pial da patroa.)
Dormiu - tudo aquilo que se encaixa perfeitamente .(Ex.: O guarda-roupa que ganhei dormiu na parede do quarto .)

Posá - Dormir em algum lugar .(Ex.: Posso posá hoje aqui ??)
Espeloteada(o) - Pessoa elétrica que tem temperamento forte , birrenta . (Ex.: Essa menina é muito Espeloteada !!!!)
Capote - Cair , escorregar , tombo , queda . (Ex.: O Cara fez a curva e tomou o maior Capote !!!)

Trincar o côco - Tomar todas , beber até cair . (Ex.: Hoje eu vou no bar e só saio quando trincar o côco !!!)

Melá o pé - O mesmo que trincar o côco. (Ex.: O marido da Mariquinha Méla o pé todo dia no Bar !!!)

Bissurdo - Absurdo , inaceitável , incrível . (Ex.: Essa coisa de seqüestro é um bissurdo !!!!)

Fiótão - Pessoa menos preparada , sem experiência , meio bobo . (Ex.: Olha lá a besteira que ele fez !!! Só podia ser Fiótão mesmo .. )
Muquiado - Ficar escondido no canto , na espreita .(Ex.: O João fico Muquiado a noite toda prá pegá a mulher dele no flagrante !)

Orná - Que combina , fica bom com algo mais . (Ex.: Vou comprá essas roda aro 17" !! Vai orná na pick-up )

Chovendinho - Dia ou noite com chuva fraca , quase uma garoa ..(Ex.: O cara tomou o capote porque tava Chovendinho !!!)

Pior que é - É isso mesmo , concordar plenamente .(Ex.: Eu acho que o João é frutinha . Pior que é !!!!)

Frutinha - Rapaz delicado que não demonstra sua masculinidade (Ex.: Olha só !!! Andando desse jeito só pode ser Frutinha !!!)

Euem - Não vai fazer , participar ou falar algo . (Ex.: Você foi no velório ontem !!! - Euem tá loco !!!)

Bico ¹ - Cara meio atrapalhado , pessoa que faz besteiras freqüentemente. (Ex.: Aí o Bico foi lá e tomou o maior fora da garota !!!!)

Bico ² - Olhar, avaliar. (Ex.: Dá um bico se essa peça tá ok. )
Bicão - aquele que não foi convidado (Ex.: Quem é aquele cara de camisa laranja e rosa, boné verde e vermelho? Acho que veio de bicão na festa)
Forfé - Bagunça , agitação . (Ex.: Fui no baile e tava o maior Forfé !!!)

Namorandinho - Estar com alguém , namorar firme . (Ex.: O Fábio está namorandinho a Joana !!!!)

Sartei de Banda - Deixar de fazer algo (Ex.: Você foi ajudar a encher a laje na casa do João ? - Euem Sartei de banda !!)

Virô um Rebosteio - Termo utilizado quando tudo dá errado. (Ex.: Eu tava na marginal e a agua do rio começou a subir eu tentei sair e não deu, Virô um Rebosteio!)

Fervo - Local agitado , festança legal . (Ex.: E aí , vamos no Fervo hoje na casa do Manezinho ??!!)

Oreia Sêca - Utilizado para designar uma pessoa ignorante , simplório .. (Ex.: Esse é um Oreia Sêca mesmo , não tem jeito !!!!)

Samiá - O mesmo que semear , espalhar algo . (Ex.: O Zé foi no quintal Samiá o milho .)

Revertério - Define mal estar , estar passando mal . (Ex.: Comi aquela maionese e me deu o maior Revertério !!!)

Morgá - Não fazer nada , ficar paradão como um lagarto no sol .. (Ex.: Hoje não tô afin de fazer nada , vou Morgá o dia todo .)

Lagartear - O mesmo que Morgá .

Zé Ruela - Pessoa que só faz besteira . (Ex.: Esse cara é um Zé ruela mesmo , dá uma olhada na besteria que ele fez!!!)

Pórva - Pessoa ou coisa que não presta , que não tem qualidade . (Ex.: Comprei uma calça jeans marca Pórva mesmo .)

Páia - Tem duplo significado , pode ser o mesmo que Pórva e também pode ser mentida . (Ex.: Esse cara só conta Páia , não acredite nele !!)
Páiero - É o mentiroso .

Tropinha - O mesmo que gangue , bando , galera .(Ex.: Vamos reuniar a Tropinha prá pegar ele depois da aula !!!)

Dar uns Péga - O mesmo que ficar ou tirar um sarro com alguem . (Ex.: Hoje vou Dar uns pega na Maria depois da missa !!!)

Paroqueada - Conversa mole , papo-furado , conversa sem interesse.(Ex.: Ah !! o Mané fica no bar a tarde toda só na Paroqueada com os outros.)

Castelá - Dar em cima de uma garota. (Ex.: Vô Castelá aquela loirinha ali !! )

Estorvo - Tudo que atrapalha , inclusive pessoas que atrapalham. (Ex.: Aquele Bico é um Estorvo !!!!!)

Manguaça Véia - Expressão utilizada normalmente quando um indivíduo sofre uma queda uu um tropeção por qualquer motivo . (Ex.: Eh!!! Caiu de novo Manguaça Véia !!!!)

Saír vazado - Atitude de todo bundão que apronta alguma e depois dá cagada. (Ex.: O dono do carro tá vindo aí, sai vazado !!!)

Treta - Expressão usada quando o indivíduo arruma confusão.(Ex.: Passei uma conversa naquela menina e namorado dela ficou sabendo , deu a maior treta.)

Furar o Zóio - Enganar, tirar vantagem (Ex.: O Túlio vai me vender um módulo por 300 reais, será que está furando meu zóio?)

Migué - Às vezes substitui a palavra "xaveco". (Ex.: Aquela tava difícil, tive que jogar a maior migué nela pra conseguir o que queria.)

Azesquerda ou Asdereita - Termos utilizados normalmente para definir direções a serem tomadas em algum caminho. (Ex.: Você então vira Azesquerda e depois Asdereita e segue em frente.)

Catando Coquinho - Termo utilizado em uma situação em que a pessoa quase cai e consegue se levantar . (Ex.: Aquele carinha , tomou em tranco do Tonhão e saiu catando coquinho .)

Nervo - Termo utilizado quando a pessoa está irritada ou nervosa com algo ou alguem.(Ex.: Aquele Oreia sêca que trabalha comigo só faz besteira e eu tenho que consertar , isso me dá um Nervo !!!!!)

Vaidalá - Termo utilizado para informar que um caminho te levará onde você quer ir.(Ex.: E se eu pegar a Rua Mascaranhas Camelo , vaidalá ??? - Ahh vaidalá tambem !!!)

Pare com isso - Termo utilizado largamente um todo tipo de conversa, expressa solicitação veemente. (Ex.: Você é um gato sabia !?? Não fale isso, pare com isso !!!)

MÓ - Expressão designativa de grandeza/intensidade. = Muito. (Ex.: O clube que nóis fumo ontem é "mó" legal !!)

Subir lá em cima / Descer lá em baixo - Reforço de afirmação. Pra garantir que a pessoa realmente suba pra cima e não para baixo, ou desça pra baixo e não para cima. (Ex.: Eu subi lá em cima prá pegar as caixas e depois eu tive de descer tudo lá em baixo !!!)

Putaquelamerda - Expressão de espanto. Susto.(Ex.: Putaquelamerda, que susto ! )

Viela - Expressão comum usada em afirmações. (Ex.: Eu viela hoje .)

Ceroto - Sujeira do nariz. (Ex.: Menino !!! pare de tirar ceroto do nariz !!!!)

Piririca - Aquela sujeira escura que fica nas dobras da pele dos seus filhos, depois de brincarem o dia todo na rua. O mais famoso é o cordão do
pescoço. (Ex.: Vá tomar banho menino !! Olhe só , você está cheio de piririca !!!!)

Atarantado(a) - Estar ou deixar alguém nervoso . (Ex.: Aquele moleque deixa a mãe dele atarantada !!!)

Arriá uma massa - ir ao banheiro para fazer suas necessidades fisiológicas. (Ex.: Cadê o André ? Ele tá no banheiro , deve tá arriando uma massa !!)

Bufa - Palavra que identifica o ato de exalar gazes . (Ex.: Hummmm que cheiro é esse ? Alguém soltou uma Bufa aqui !!!)

Gaitiá - Palavra utilizada para definir quando alguém muda de voz durante uma conversa (Ex.: Xééé , o Ronaldo tava falando no telefone e deu umas gaitiadas)

Diapé - Palavra que identifica uma forma de se locomover. (Ex.: Você vai de carro ou Diapé ?)

Dordeperna - Expressão utilizada para identificar dores nas pernas. (Ex.: Ontem fui trabalhar Diapé e hoje tô com muita Dordeperna )

Embruião - Designa aquele que não é confiável , também aquele que não gosta de trabalhar. (Ex.: O Chico tá desempregado de novo ! Também é um baita Embruião ! )
Gambé ou Os home - Pseudônimo dado aos policiais. (Ex.: Ihhhh sujou, os gambés! ou "Olha a barcona, os home...os home")
Barcona - Viatura da polícia. (Ex.: Acima)
Guéla - Duas situações, fofoqueiro ou falastrão. (Ex.: OLha rapaz, você fica falando pra todo mundo, pare de dar guéla)
Truta forte - Amigo, parceiro . ( Ae, esse aí é truta forte)
6V - Ato de fazer a devolução de algo emprestado. ( Raimundinho, esse gaguhio é 6V...vai, volta, voando, viu...viado, véio)
Baguhio - objeto (Ex.: acima)
Castelá - olhar (Ex.: Castele, castele aquela mina; é uma petequinha)
Petequinha - garota bonita (Ex.: acima)
Desacorçoado - enjoado, desanimado (Ex.: Pô meu, tou desacorçoado com esse cara, ele é o maior por fora)
Por fora - chato, inconveniente (Ex.: acima)
Carcada, chamada, pito - chingo, chamar a atenção. (Ex.: Nossa, tomei um pito da professora - Tomei uma chamada do guarda)
Piabada, chacoalhada, vareio - perdeu feio ( haha, seu time tomou uma piabada ontem)
Ceva - dois sentidos: cerveja (Ex.: E aí, vamos no boteco tomar uma ceva?
Mio - mancada, pisou na bola ( O marquinho foi na lanchonete, ficou bêbado e deu o maior mio )
Bichera- má qualidade, ruim (O que você está pagando com essa bike Michelzinho? Essa bicheira!)
Pagando - se mostrando, se aparecendo (Ex.: acima)
Nervoso - potente (Ex.: O Jabá colocou um motor novo no carro dele, o carro ficou nervoso )
Serrote ou segueta- pidonho, aproveitador (Ex.: Tava na boa na padaria comendo um lanche, daí chegou o Carlão e me pediu um pedaço, o cara é serrote)
Bandeira - vacilar, desatento (Ex.: O Raimundinho tá lá na esquina, fica dando bandeira)
Fio - se dirigindo a pessoa com certo nervosismo (Ex.: Já coloquei meu fio!)
Miuda - quieto, no lugar (Ex.: O Pardal já tá começando ficar puto, vou ficar na miúda)
Puto - bravo (Ex.: acima)
Pegou de brabo - firme, pesado (Ex.: O Maicon precisava terminar aquele trampo logo, pegou de brabo)
Trampo - trabalho, serviço
Dois palito - rapido (Ex.: Vou buscar o violão, é dois palito)
Lagartão - aquele que faz serviço pesado, puxa saco. (Ex.: OLha o Juarez, desde cedo carregando aqueles fardos de 50Kg, é um lagartão mesmo)
Bicão - aquele que não foi convidado (Ex.: Quem é aquele cara de camisa laranja e rosa, boné verde e vermelho? Acho que veio de bicão na festa)
É o bicho - ótimo, de qualidade ( Cara...veja o celular novo com câmera que comprei, é o ultimo lançamento, é o bicho)
Roça - encrencado (Puts! Cobrei o Xandinho perto dos camaradas, agora ele quer tirar satisfações; tou na roça)
Nhaca - ressaca, mal disposto (Ex.: Tomei todas ontem, hoje eu tou uma nhaca)
Tiozinho - pessoa mais velha, idoso, coroa (Ex.: Não sei quem foi, eu vi aquele tiozinho mexendo no baguhio)
Vaza - dois sentidos: mancada, vacilo ou vai embora, retire-se rapidamente(Ex.: 1 - Dei uma cantada na mina do Marião, dei vaza, será que vou apanhar?
2 - Não sou macaco gordo, mas vou quebrar o galho de vocês, não vou lhes aplicar a multa, mas vaza daqui, sai vazado... vai....vaza, vaza...seus vagabundos!)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Poema Para Manoel Alonso Junior, Teleco, de Itararé-SP




Teleco Sete Cordas

Para Teleco, Manoel Alonso Júnior
Boêmio Inesquecível de Santa Itararé das Artes

Poema-Homenagem, In Memoriam

Lá vem o Teleco com o seu violão
Dedilhando um belo samba-canção
Ao lado do Fernando Milcores
Harmoniza o ar com sua sinfonia

Teleco Sete Cordas foi parceiro do meu Pai Antenor
No conjunto regional da Igreja Cruzada
Também esteve solando o nosso chão de estrelas na boemia
De Santa Itararé das Artes toda emperiquitada

Teleco era tranqüilo, sereno, um grande amigo
Trazia uma serena candura consigo
Enquanto varava as noites Itarareenses
Nos bares o violão e a turma, a parceria
Com essa gente seresteira que queria
Passar o tempo; a fauna notívaga de Itararé

Lá vem o Teleco Sete Cordas
Com seu violão companheiro
Com seu jeito todo lueiro
Pontuando momentos e canções
Em bares cheios de gente alumbrada
Lá vai o Teleco dormir que é madrugada
A lua na noite de Itararé desfila alada
E ele vai recarregar a bateria
Para o forfé de um novo dia...

Um dia o Teleco parou com o seu violão
Foi tocar Chão de Estrelas pra Deus
E nos deixou com uma baita saudade até
Mas quando o vento de noite pinta o caneco
A gente acha que é o saudoso boêmioTeleco
Visitando o palco iluminado de Itararé

-0-

Poetinha Silas Correa Leite – Santa Itararé das Letras
Anos 100 da Escola Tomé Teixeira Em Comemoração
Entra Aluno, Sai Cidadão
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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Romance DEUS DE CAIM, um clássico de Ricardo Guilherme Dicke




Pequena Resenha Crítica


Livro ‘DEUS DE CAIM” - Estágios Escuros de Vivências Romanceadas com Estilo e Furor
Ricardo Guilherme Dicke, Prêmio Walmap, Magnífica Literatura Arrojada em seu Esplendor Literário


As batalhas nunca se ganham. Nem
sequer são travadas. O campo de
batalha só revela ao homem a sua
própria loucura e desespero, e a vitória
não é mais do que uma ilusão de
filósofos e loucos.

Wiliam Faulkner, O Som e a Fúria



O cavernoso romance (novel?...) “DEUS DE CAIM” do surpreendentemente estupendo escritor Ricardo Guilherme Dicke, agora muito apropriadamente relançado em alto nível pela LetraSelvagem, na coleção Gente Pobre, sob a organização do escritor-editor Nicodemos Sena, bem faukneriano e contemporâneo ainda, destila verbos, venenos, e inventaria brumas da relação ser/sociedade, vida/morte, amor/dor, fantasia/frustração, carne/espírito, dilemas/sentido e percepção, moendas (interiores)/engenhos (de almas atribuladas), tormentas pertinentes/insanidades comportamentais arrazoadas, Deus e o diabo no húmus entre Pasmoso e a profunda cauda narrativa que flui com densa liquidez expressionista/existencialista, e os cárceres das tentativas. A prosa do espaço, a dialética do exterior e do interior “as geografias solenes dos limites humanos”(Paul Éluard) e a porção carbono-C rusoé de cada ser. E Nelly Novaes Coelho (crítica literária, USP) já no início do livro ricamente editado já muito bem levanta panos e tintas:
“O homem interrogante; aquele que sonda o vazio existencial (...); em Dicke predomina a sondagem dos escuros do homem (...); Deus de Caim escava fundo um dos interditos que alicerça a civilização cristã ocidental (...); tempo de caos; romance labiríntico (...)”.
Toda arte de alto nível é cheia de pontos de interrogações como se propositalmente desinterligados. A arte de escrever nos leva a afirmação da vida em nós. Lágrimas não ficam para sementes, senão na arte? É melhor ser triste do que arrogante. Quatrocentas páginas de puro deleite que, explorando o fluxo narrativo (em júbilo?) do autor, vai de casa a casa, de ambientes a embustes, de fachadas a desfrutes, do historial ao fabuloso, entre o espanhol ao francês, nacos de poesia propositalmente semeadas, levantando lebres, apontando sítios letrais e escavando horrores quase que impossíveis de serem silenciados. Escrever é teatro de ocupação?
Artista plástico e filósofo, de pai alemão, Ricardo Guilherme Dicke pintou sua literatura de tintas brilhantes, novíssimas para a época em que foi inventada, um épico com cargas humanas, demasiado humana, como diz, fragmento de ensaio a respeito do livro (Ronaldo Cagiano):
“Nos 21 capítulos da obra a história da família Amarante vai se desdobrando numa colcha de retalhos de situações conflituosas e metaforizam a própria historia do Brasil (...)” (In, Carlos Herculano Lopes, Caderno Pensar, Estado de Minas, 06/02/10).
Aliás, Hilda Hist o considerava “um gigante”. Caim, Abel, Lázaro; personagens desbiblificados entre sombreados com querelas, acontecências, traições, taras; a vida nua e crua revelando sinais de pânicos e disfarçando conflitos, neuras. A par disso, bem pintados, filosofados, livros bons acabam joias preciosas. O medo nos delimita? Existe mais insanidade do que sensatez na vida, nas cargas dos ombros dos homens, no mundo. Somos todos espécies transfiguradas de paisagens com passagens de agonias, sonhadores ao extremo, não moscas-de-frutas. O Deus de Caim soma tantos pontos de interrogações até sobre palavras não ditas; dadas a entender.
“Romance capaz de abalar a nossa ficção” - (Guimarães Rosa). O âmago das crueldades destrinchadas em núcleos cênicos e traços existenciais carregados de ferramentas de crueldade e características psicológicas. Os arquétipos da fantasia e de uma loucura surda, enviesada, tudo em DEUS DE CAIM, a partir do mote de um irmão atentando contra o outro. A realidade é mais embaixo.
A consciência, a inconsciência, o que afinal resta dos refinamentos de uma ótima ótica para ver/sentir/; escrever com domínio da pena. Dicke naturalmente arrasa quarteirões, expõe as vísceras de momentos retratados, mas, ainda assim, com a ótica apurada de um pintor, desqualifica e expressa o horror (de viver?); teatro de ocupação reinando o tempo todo, num vareio de linguagem. Você só acredita porque está lendo. Como é que pode? No mundo da fantasia os monstros engordam parágrafos; na verdade, sangue/suor da dura e inominável vida real. Real?
Contundente, impoluto, altamente criativo, perspicaz, denso, e ao mesmo tempo de uma fineza extraordinária. É difícil ler Dicke e ficar indiferente. Não há neutralidade na sua leção. A atônita realidade captada em parágrafos que vão embora... Realidades sentenciadas com estilo e alto pendor estético, num talento literário surpreendente, agora reconhecido. Quem sairá do labirinto do livro sem se impressionar com as virtudes?
A história fala de nós, segundo Horácio, em sua sabedoria latina. Às vezes temos demônios e anjos à flor da pele. Nas dissonâncias há mais pureza do que no estojo linear das ideias. A arte de buscar o incompreensível nos leva à afirmação da vida. É o paradoxo de sobreviver além da sentição, e campear o lado pensador do humanus. A meditação não é escrachante quando aponta o humano vagando em suas erranças existenciais e sublógicas. Pode isso?
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“(...) Lembremos que toda pessoa tem o direito à vida, não é? Mas de onde lhe advém esse direito? Da Bíblia. E tirá-la, é claro, equivale a tirar um direito fundamental que constitui, desde o tempo de Moisés, violação à lei (...). O problema é este – chegar-se a um plano utópico em que não haja necessidade de leis e necessariamente todos os preconceitos se tornarão cinza inútil, relegada aos museus da morte e das coisas extintas. Imagine o que é não existir nem poeira desses preconceitos de agora que tanto nos martirizam, imagine uma cidade futura e ideal, em que todas as aspirações e inibições que jazem em nós sufocados, reprimidos e inexprimidos, aliadas à técnica elevada à perfeição, o que não seria! Por enquanto só algo mui longínquo disto se delineia em algumas obras de artes. Aliás, toda obra de arte é utópica” (Pg 135).
Você lê se palpitando no entressombreado do livro Deus de Caim e as cinzas aqui e ali soturnas das horas, relações e desmontes de significâncias, e reserva para a sua surpresa seduzida, um lugar para uma nova releitura ainda mais significante a seguir, e quiçá compreenda melhor, inteiro, se isso for possível, como a obra que vale o peso, a fama, a própria paixão de ler e de escrever. Obra única, feito um Cem Anos de Solidão, O Perfume, Baudolino, Invenção de Onira, A Espera do Nunca Mais, Vidas Secas, Grandes Sertões: Veredas. A narração é a redenção?
“Lidando com uma simbologia a que ele dá um sopro vital, fora do comum, Dicke não deixa coisa alguma de fora (...). O homem de fora está cercado de outra mundologia, as realidades violentas e subversivas da narração de Dicke envolvem com rapidez. Sexo e morte são evidentes (...). (Antonio Olinto, da Academia Brasileira de Letras). O ser humano precisa sentir sua exata sensação de estar e ser no mundo. Dicke tira pertencimentos das trompas da cólera, do desamor, da vida fugaz em sua saciadade de aproximação com estados calamitosos. Nada é impossível para ele. Desde Caim e Abel, a história nos fez acorrentados a culpas e sentimentos de medo e opressão.
A irrazão humana. A emoção humana tão desnaturada. Surpreende-nos Dicke em cada parágrafo, mesmo quando a narração ou enfoque vara páginas de limbos. A invisível esquizofrenia costumizada da apática sociedade decadente e falsificada para consumo. O biscoito da vida não é da sorte, não é de vida plena. Lágrimas não são guloseimas. Sentir dói. Em que lugar ficamos livres de tantos nós, senão nas asas da literatura? Bruce Hood dizia: “Nascemos com o cérebro desenhado para encontrar sentido no mundo. Esse desenho às vezes nos leva a acreditar em coisas que vão além de qualquer explicação natural.”
Uma obra clássica como Deus de Caim não se explica, mas se justifica pela excelência do autor. Em esmerada edição agora pela LetraSelvagem, Ricardo Guilherme Dicke é resgatado no auge do que a sua historicidade criativa congrega e vem-nos assim reeditado em sua maior obra-prima. Os porões da alma clarificados. Os subterrâneos da vida distinguidos com sua pena distinta, singular. Os sótãos de cabeças e sentenças nominados. É incrível a “lógica” funcional do escritor extremamente crítico, irônico, criativo e, claro, agora mais do que nunca, cult.
Literatura pura, de primeiríssima qualidade. Não há babel, bezerro de ouro ou cepo de Abrahão que esconda o sortilégio e o trágico fruto de Caim que vem enlutando a história da humanidade desde os primórdios. Escrever é pagar um preço? Escrever não é apenas cutucar onça com vara curta, é soltar todos os bichos. E Dicke faz isso muitíssimo bem, assustadoramente muito bem, liberta os seus (os nossos?), abre as comportas de seus próprios diques criativos interiores. Ah os escuros recônditos das almas embrutecidas com a fúria de ter que comparar, sobreviver, parecer que é o que não é.
E o Deus de Caim - que paira sobre todos nós – acode para uma leitura a altura, exige atenção pontuada, ao mesmo tempo olhar de remanso, para deguste e assim se poder sacar o esconderijo das ideias que ventila, ramifica, aponta e crava com o crivo de uma criação única. E quem sai ganhando é o leitor que se envolve dele, surpreso com a qualidade que custa assentar. Não é fácil. A vergonha, o incesto, a mentira, a dissimulação, o que pode parecer bizarro ou sexista. Quer mais humano do que tudo isso?
O estado decrépito do ser enclausurado em suas mesmices, masmorras e memórias cênicas, filosofando sobre conjecturas ou o que poderia ser e não foi, muito além das fronteiras das almas e seus estágios vivenciais estarrecedores. Ou seja, a humanagente no seu viveiro de contrastes. Vejamos a pintura literária:
“(Considerações, entretexto) O vermelho é a paixão e a força telúrica do Sol Matrogrossense, o azul são as paixões da noite e o negro a melancolia do sangue remotamente flamengo. O amarelo é a ânsia, o ouro, o desejo e as outras coisas nunca alcançadas. As formas que lembram labirintos e meandros ora são vegetações, ora caminhos, ora nervos em expansão, ora o ideal de um laboratório em que busco as equações de um mistério, de um nepentes ou de um descobrimento perfeito. Quero que quem os veja sinta uma contração pulsar e repulsar. E ao mesmo tempo, indague o que é o mundo – com múltiplos e infinitos signos estranhos – o que é o mundo, estas linhas, estas cores, esta massa, este movimento, este ser. Rilke disse que uma obra de arte é de uma solidão infinita. Quero pois que quanto mais solitário melhor. Cada qual encontre um pouco de seu eco que se perd e. É a natureza que recrio – e se fosse Deus – assim a recriaria – e é a relembrança dos países que não fui, no tempo das harmonias. É minha alma e a sua capacidade de entender alguma coisa que em mim não se perde para sempre, como as outras coisas que se perdem para jamais. É a poesia que não fui. As cores que eu amo e minha intenção de buscar entender o efêmero (...)”. Pg 251.
A extravagante literatura caudalosa (e por isso mesmo ocasionada de parágrafos em narrativas angustiantes) de Dicke; uma pintura extravagante de situações sociais em ermos e fugas, estados espúrios, de decomposições da efêmera vida social e sócio-familiar, quase árido, ou, como diz João Ximenes Braga (In, Dicke: o vôo da eternidade): “Dicke realiza uma estranha alquimia de política com metafísica na temática, e de realismo social como barroco no estilo (...) E ainda há intervenções de personagens místicos que o aproximam do realismo mágico (...)”. Pois Deus de Caim é uma soma disso tudo, e surpreende nos entremeios, na narrativa, nos belíssimos enfoques que o autor destaca e desenvolve com a paleta da escrita que mistura tintas de situações e aparências entre cores de convergências sociais apontando embustes; tirando etiquetas do armário, uma espécie as sim de romance-ensaio se reportando a conflitos, traumas e sequelas da natureza humana em decadência.
Um dos maiores romances escritos no Brasil, e mesmo tendo sido inicialmente lançado e premiado há cerca de quarenta anos atrás (Prêmio Walmap 1967), permanece muito atual, como toda obra de arte que se supera superando o tempo real, indo além de sua época como consagração de vanguarda e reconhecimento de talento e estilo próprio. Ricardo Guilherme Dicke, assim, escreveu um épico num estilo raro, único, onde concilia fluência e domínio absoluto da linguagem e da criação em seu esplendor, a verdadeira arte romancesca. Bravo!
___________
Silas Correa Leite
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www.portas-lapsos.zip.net

quinta-feira, 25 de março de 2010

Nunca Estarei Só - Poema-Letra de Rock de Silas Correa Leite




Nunca Estarei Só (Poema Querendo Ser Letra de Blues)

“Escrever é preciso
Viver não é preciso”

Apesar de às vezes me sentir numa caverna do cosmos
Com o peito entrevado por causa das amarguras da vida
Nunca estarei só pois minha alma ainda habita a poesia
E de lá trago celestidades que alimentam meu ser carente.

Quando eu quero respirar música na minha alma nau
(Tempos de solidão e de tristeza que não são desse mundo)
Então eu leio um poema ou escrevo uma letra para blues
E coloco para fora do espírito todas as teias de sofrimento.

É como compor um blues quando se pensa em se matar
Porque a arte é uma libertação, e escrever algum poema
Deixa o rastro de nossa existência com toda sensibilidade
Na tábua de carne da terra ainda precisando de muita luz.

Nunca estarei só pois os poemas me fazem companhia
Habito um espaço letral que me refrigera e me revigora

Meu reino não é desse mundo. Como um poeta lusonauta
Vou compondo a minha página de rosto na sobrevivência.

-0-

Silas Correa Leite, Itararé, Cidade Poema
E-mail: poesilas@terra.com.br
Blogues: http://www.portas-lapsos.zip.net
Ou: http://www.campodetrigocomcorvos.zip.net
Poema da Série “Éramos Blues”

quarta-feira, 3 de março de 2010

Resenha Crítica livro Ideias Noturnas de Eduardo Sabino

Pequena Resenha Crítica

“Ideias Noturnas - Sobre a Grandeza dos Dias”, Livro de Contos de Eduardo Sabino

“O dia-a-dia não precisa ser extraordinário para
ser interessante. O cotidiano é riquíssimo de assuntos
e acontecências de toda espécie – fora e dentro da gente.
É só ficar com as antenas ligadas – as antenas da
curiosidade dos sentidos e dos sentimentos, de
senso critico, de senso poético, sem
esquecer do importantíssimo e
indispensável senso de humor”

Tatiana Belinsky

Você não consegue ler o livro de Contos “Idéias Noturnas” (Editora Novo Século, SP, 2009, 120 páginas, Série Novos Talentos da Literatura Brasileira) de uma só levada, a um só termo. Você é inesperadamente surpreendido na pegada de lê-lo e saber que tem que respirar a leitura, de alguma forma por si mesmo e de per-si, pontuando-a. Parar. Stop. Voltar a tomar pé e pulso no verbo ler. Reler. Porque cada vez que sondando antevê, “pensa” que é, que sonda o arremedo narrativo do devir, o tema e o andamento, mas tudo o que sentia parecer na verdade não é. Contos incomuns, algo (raros) estranhos, por assim dizer como elogio. Tiram você da lerdeza do ler puro e simples para uma sentição do que lê e admira. Grandeza dos Dias? Dos escritos também.

Os contos de Eduardo Sabino são claramente (literalmente) diferenciados. Escreve com uma boniteza que reveste a surpresa da contação em agradável prazer de leitura. Já ganhador de Concurso, participante de antologias, colaborando com veículos de comunicação, inclusive sites, é também editor da revista eletrônica “Caosletras.blogspot.com”. Nasceu em 1986, e, sendo tão novo e tão bom, denso, contundente que seja, é encanto gratificante sabê-lo e conhecer desenhos da escrita dele nesse novo livro de contos.

Otimamente bem Prefaciado por Rinaldo de Fernandes, que dele aponta com conhecimento de causa: “O protagonista do conto (Purgatório, pg 25) está entre o sonho e a realidade de um cotidiano desbotado(...). A vida eterna não nos resolve a angústia de viver (Eternas Angústias de um Imortal, pg 29)(...). Os contos de Eduardo Sabino, irônicos e intensos, com personagens angustiados, alguns à borda do desespero, não raro flagrados em situação de pobreza(...)”. Pois é, ironias, seres (quase-seres/sub-seres), animais, máscaras, monstros, vírus, loucuras... baratas. Doce Lar? Não há nexo na vida real.

Purgatório é sim, um conto sobre um “ser” urbanóide no entre-subsolo de um elevador; sobe, desce, lamurias, contemplações, martírios; reinando. O ser que incabe em si. Desconexões. Vazios. Impertinências (e um olhar ferino) do escritor retratando o ser de si no que vê, sente, repagina; em páginas de restos até porventura rotos que assim sejam. O olhar aproximando da trajetória alheia. “Todos abençoados porque estão vivos. Abençoados porque morrerão” (pg 31). Santo Deus!

Abismo (pg 33) uma das melhores criações do livro. Linda ficção. O abismo é viver; que é ser feliz, que é (talvez?) a própria estupidez de tentar ser Ser... A retina do escritor reformatando aspectos invisíveis, risíveis, verossímeis... criados, imaginários; resgatados também da rudeza dos dias... Sim, diz Eduardo Sabino, é preciso estar muito próximo para conversar a língua do olhar. (Céu Aberto, pg 49). Um roteador de sombras, como um eu-endereço-de-mim, em mim e no outro. “La Sombra”, belo conto, pg. 53, especifica o norte (mote?), o estilo: “La Sombra, a essas alturas um vulto com olhos amarelos e fiapos de cabelo, sugeriu que poderia haver uma esperança se os outros enxergassem melhor o que achavam tratar de meros contornos desprovidos de luz(...).

Eduardo Sabino joga luzes letrais em contornos que redescobre, pincela, amalgamado capta nuances, enlivra desafetos afins, defeitos de fabricação do humanus. De heróis a anônimos, povoando a criação (O Herói e o Escuro, pg 57) a situações-conflitos, rostos e trevas, ideias verbais (aqui noturnizadas). Seres?. Retratando tristezas que nascem e morrem a cada dia. What a Wonderful World?

Banzo (pg 75) emociona, cala fundo. Dói no literal. O melhor dos trabalhos. E por aí vai, O Inquilino, O Jardim Encantado, e outros tantos do mesmo gabarito. Eduardo Sabino relata aspectos (de condições humanas) entre espectros sub-existenciais até. De se ler com prazer, mais, entrar na alma da contação, satisfazer-se, sendo a leitura de “Idéias Noturnas” um imenso (muito) prazer. É o autor com talento dando voz aos desvalidos, aos tantos instantes-trevas da vida, inclusive a fragmentos de vidas retorcidas. Senti-las é isso. Escrever sobre elas, dando peso e fermento; purgações, coisa de quem está fazendo muito bem o que se propõe. In/purezas no pântano da condição humana? O criador se encontra no(a) self?

Nesses tenebrosos dias em que ando muito triste sozinho, escrevendo na pele do espírito a dor de um momento difícil, nervos frágeis à flor da pele, a leitura circunstancial do livro colocou um (algum) certo sentir novo (e revisitado no íntimo) em mim, como se tudo fosse mesmo só isso, cara pálida, nascer, sobreviver, morrer, no durante contorcer-se com a nossa dor, a dor dos outros, e, ainda assim e por isso mesmo captar a grandeza dos dias. Será o impossível? Tudo a Ser.

Entrar no mundo criacional de Eduardo Sabino é ter a sensação de que se lê uma história que nasceu por si mesma, em si mesma, como referendou Julio Cortazar. E assim Eduardo Sabino acertou em cheio, acertou a mão. É do ramo e muito bem conhece do oficio e da linguagem de. Contos para se ler com o olhar, afinando-se na riqueza de quem sabe dar vazão a querelas talvez corriqueiras que parecem sair da esquina do olhar; de um beiço de vida, num clarear de tardes e pertencimentos de seres que também são a nossa cara, pois a existêncialização não é nem uma herança e nem uma evolução apenas, mas, um certo modo de nos envolvermos com o sentido social-comunitário de nos fazermos em cada natureza de criadores e criaturas, feito espécies assim de “antenas” (parabolizadas) de nosso tempo, registrando tudo, doa a quem doer, custe o que custar. E dói muito mais em nós, sentidores, entre prismas e colchas de retalhos com sabenças sensíveis de foro íntimo. Goethe diz que “qualquer coisa que formos capaz de fazermos ou que sonhamos que somos capazes, devemos começar a fazer, pois a coragem traz consigo gênio, poder e magia”.

“Idéias Noturnas” é a magnitude de tudo isso e um rebite a mais. Sintam-se humanóides. Bem-vindos ao mundo literário de Eduardo Sabino e suas fragrâncias de dias cheio de ideias literariamente clarificadas.
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Silas Correa Leite – Santa Itararé das Artes, SP, Brasil
E-mail: poesilas@terra.com.br
www.portas-lapsos.zip.net
Autor de CAMPO DE TRIGO COM CORVOS, Contos, Editora Design, SC

sábado, 30 de janeiro de 2010

Romance Dois Irmãos de Milton Hatoum, Resenha Crítica





Pequena Resenha Crítica


“ZANA”, A Melhor Mãe da Literatura Brasileira
(Romance “Dois Irmãos” de Milton Hatoum)



“Ficção é perder o olho(...)”

Colum McCann





Quando você acaba de ler o belíssimo romance “Dois Irmãos”, de Milton Hatoum, Editora Companhia de Bolso, além de você se encontrar em júbilo com a qualidade da obra, ficar com gosto de quero mais no paladar aguçado, ainda sai da leitura encorpado com o tamanho volume da Mãe dos dois irmãos que são elevados e revelados em todos os sentidos pela proposta do livro-obra, um clássico da literatura brasileira contemporânea. Sim, contundentes, paradoxais, Yaqub e Omar saltam aos olhos, mas, e a bendita (maldita?) Mãe?

A Mãe ZANA dos meninos no palco de Manaus, é, certamente, a melhor mãe retratada no historial da literatura brasileira como um todo. Retratando os dois irmãos em contundências e agonias, revelando-os de alto a baixo, na fluente narrativa cativadora e de qualidade, o autor está se nos apresentando página por página a mãe ZANA que gerou os gêmeos, a mãe que os amou, que os estragou e por assim dizer na criação fundou a tragédia continuada da familia até o fim.

Sim, Milton Hatoum soberbo na linguagem e retratando um lar, na mãe disparou consubstancialmente o foco (triste), o eixo (duro), o centro (amargurado), retratando olhares, afetos, resignações, buscas e perdas em cada filhote que de si mesmo por assim dizer eram uma continuação dos lados ambíguos dela. Já pensou?

“Meu querido, meus olhos, minha vida”, diz Zana chorando, logo às páginas 13 do romance. Para Yaqub, o gêmeo que se ausentara no Líbano, capricho de Halim e dela mesma no desdizer. Lembranças e pesadelos de um mundo imponderável. Literalmente a mãe entre a cruz e a espada, dose dupla de si mesma, pendendo mais para o Caçula, o atinado, o atrevido, o atirado, vendo as coisas de cima de sua pose, o louco e vaidoso. Quem pariu que embalasse? Vá saber. Quem tem mãe não tem medo, disse Henfil. Mas uma mãe como Zana é uma loucura.

Yaqub de uma coragem escondida, recalcada, acalcada pela tendência da mãe pelo perdido. Mães sabem o que criam. E ajudam a alimentar o monstro de cada ego, cada resignação-toleima, dando corda e calço, literalmente embalando. Só as mães são felizes, cantou Cazuza, ele mesmo um Omar em verso, prosa e música. Quase um pierrô retrocesso.

Como uma fábula pós-moderna da história bíblica de Abel e Caim, com peculiaridades boas e ruins de um lado e de outro, de algum modo sem o desfecho exatamente fatal mas o próprio tácito fatalismo em si corroendo imagens e engrenagens íntimas, entrecortando toda a história muito belamente estruturada em narrativa cativadora e fluente na contação densa, que, por isso mesmo, também virou um dos mais belos romances da literatura brasileira, que traz a Mãe “Zana” como a melhor matriarca-matrona (não necessariamente megera) da própria literatura como um todo.

“Uma saga iluminada e profundamente emocionante” diz Alberto Manguel, in, The Independent, do livro Dois Irmãos, ambientado na urbanidade amazônica em tempos de guerra mundial, depois da ditadura nos bastidores em pinceladas estimativas, o amor e o ódio degladiando no meio de um mesmo sangue e circulo vicioso familiar, Yaqub e Omar, cicatrizes e sombras – e a superprotetora Mãe Zana, naquele que já é considerado por muitos críticos como o melhor romance brasileiro dos quinze últimos anos. O Século XXX sangra desde logo.

Yaqub, casulo de si mesmo borboleteando futuras intenções, ovelha perdida, boto rosa, pássaro ferido, montanhês rústico, aqui e ali apreensivo, derrotado. Silencial. Um falso-covarde com guardadas intenções maquiavélicas? O caçula e cínico Omar com escárnio e o mesmo sangue nas mãos. Lobo de si mesmo. Um personagem e tanto para as ponderações de Freud. Já pensou? A mesma carne em trincheiras opostas. O caçula e cara e a coragem da mãe. Yaqub sem nenhum papo-aranha, acanhado, desconfiado. Ódio, ciúme, e o zelo exagerado de Zana dando o tom às vezes descolorido das relações em conflito. Supermãe às vezes dá nisso. Não sabe nunca de que lado está, mesmo tendo escolhido um. Yaqub: “Cabeça e inteligência, isso ele tem de sobra”, diz Zana, a Mãe. Matematicamente introspectivo. Solidão-cangalha.

Omar com suas diabruras era da pá virada, aprontando todas, lunático, sexista, vivendo com emoção, a juventude em viço, as serenatas que enchiam de luzes as cativadoras noites de Manaus. Céu e inferno em si mesmo, o radical em choque e enfrentações. Audácias juvenis. Transgressor. As ressacas das noites de prazer. A busca de si nas transgressões de tudo e de todos, zelo excessivo, mimo doentio da genitora que via no escolhido a morte eminente. E Zana dando o aval de alguma maneira, custeando-o.

Zana impávida, colossal, serenidade fingida, a Mãe e os ímpetos das imprudências. Depois ambos no Galinheiro dos Vândalos, que os igualou. Mas a mãe sempre sabe onde a porca torce o rabo. Pelo menos Zana protegia o atrevido e censurava o certinho. Orgulho e fé. A carnadura do casal ali expropriando esperanças e amarguras... Ruminando situações que tentava apaziguar. Yaqub: “A mãe, com o olhar maravilhado, não sabia se mirava o filho ou a imagem dele”. Espelhos revisitados alimentam neuras. O abismo mais temível estava em casa, diz o autor, às páginas 33. Halim não podia evitar. Era um mero pião no jogo das aparências.

O narrador que se revela ao final, comenta: “Omar, mordido de ciúme, não tocou no nome do irmão. E a mãe, pura ânsia, dizia que o filho que parte pela segunda vez não volta nunca mais”(in, pg 35). Ora dando um enfoque criacional, ora saltando para uma outra ótica, sempre levando e trazendo contações, passados, futuros, implicações, o escritor vai iluminando atos do cenário em que a tragédia ainda está pertinente, parada no ar mas nunca vaza, nem escoa radicalmente. O leitor é que vai antevendo, costurando na cabeça as linhas de raciocínio, daquilo que Milton Hatoum faz que revela mas cabe ao apreciador de boa escrita ter sua própria “leitura”. Não há leitura inocente, nem escrita inocente. O que passou é prólogo, diz Shakespeare. Jorge Luis Borges dizia que a raiz da linguagem é irracional e de caráter mágico...

Yaqub, o tempo servido no Líbano e o que lá sofreu, permanece um ponto de interrogação no romance todo. Pairando sobre aparências e relações familiares conturbadas de lado a lado. A eternidade pode estar no que se cala. Histórias que se cruzam, vidas em trânsito, vaivém de núcleos de abandonos, águas como lembranças remotas que saem e chegam, o remo da palavra ornando a embarcação do livro em contracorrentes. O leitor navegando a alma nau de cada personagem. O autor mascateando parágrafos para seduzir o leitor pelo prazer da leitura. Zana, sempre em intimidade com os filhos, uma teimosia de tocar, proteger, talvez desconfiguar a personalidade de um e de outro, aqui e ali errando mão, rumos e entendimentos. Talvez cega de tanto ver?.

“Zana mandava e desmandava na casa, na empregada, nos filhos. Ele (Halim, o marido, o pai), paciência de Jó apaixonado e ardente, aceitava, engolia cobras e lagartos, sempre fazendo as vontades dela (Zana) (...), mimando-a, tocando o alaúde só para ela, como costumava dizer”( pg 41). Milton Hatoum tem poesia nas veias narrativas; em todo o transcorrer do livro há janelas de poesia, pura prosa poética. Achados. As coisas não têm alma, nem carne? Todos foram vítimas de Zana. Parece que o diabo torce para que uma mãe escolha um filho. Talvez Deus por outro lado desperte um lado de certo instinto selvagem na mãe, a natureza-mãe, para que proteja o que parece forte mas é só um ponto de fuga... Será o impossível?

O autor Milton Hatoum pincelando as chagas e as luzes da mãe. Prismas. “O filho de Halim (pai): forte, viril com todas, mas com a mãe se desmanchava em chamegos ou tremia como taquara verde. Vá entender o poder de uma mãe. Daquela Zana(...) Quando o destino de um filho está em jogo, nenhum detetive do mundo consegue mais pistas do que uma mãe”(pg. 104)”. Caçada de mãe é tempestade (pg. 110). No fundo Omar era cúmplice de sua própria fraqueza, de uma escolha mais poderosa do que ele; ele não podia muito contra a decisão da mãe, para quem parecia dever uma boa parte de sua vida e de seus sentimentos(...). Tentou se conformar com essa frustração que ele supunha pacificadora, e nunca mais ousou entregar-se mulher nenhuma(...)”

A Mãe Zana que queria paz mas sem querer fomentava o embate. A construção insabidamente desconstruída. As mães bem sabem onde põem a alma, o coração, as mãos. Mas o instinto protecional exacerbado pode criar infernos em clãs. As desgraças todas da história acontecem por amor (demais, aloprado) e em familia. Milton Hatoum soube colocar a mãe no meio; nos meandros historiais, com música, harmonia e ritmo num romance cheia de enlevo. Acertou na Mãe também. “Alguns dos nossos desejos só se cumprem no outro, os pesadelos pertencem a nós mesmos” (Milton Hatoum, pg 196). Leia o livro e se sinta em casa. Êpa, quero dizer, sinta-se humamente dentro de você mesmo. Talvez, na verdade, ao contrário do que diz o rock do Cazuza, só as mãe são perfeitamente infelizes com o que afinal sangraram como filhotes de suas próprias amarguras.

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Silas Correa Leite, Santa Itararé das Artes, São Paulo, Brasil – Jornalista Comunitário, Especialista em Educação, Conselheiro em Direitos Humanos (SP)
Autor de O HOMEM QUE VIROU CERVEJA, Crônicas Hilárias de Um Poeta Boêmio, Prêmio Valdeck Almeida de Jesus, 2009, Salvador Bahia, Giz Editorial
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